2 de setembro de 2020
Como a neurociência explica a formação e a quebra de hábitos

by:Caffeine Academy

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Você acorda, toma banho, faz seu desjejum, escova os dentes....Todos os dias - com poucas variações - você executa pequenas atividades de forma automática. Isso são hábitos, que sob o ponto de vista na neurociência, são rotinas comportamentais que possuem automação, consistência e resistência.

Os hábitos são formados no corpo estriado. Mas é especificamente no estriado dorsolateral (DSL) que acontece uma explosão de atividades no início de um comportamento aprendido. Um novo estudo publicado no Journal of Neuroscience se propôs a mostrar como os hábitos podem ser controlados, dependendo do grau de atividade do DSL.

"Nossas descobertas ilustram como os hábitos podem ser controlados em uma pequena janela de tempo quando são acionados. A força da atividade cerebral nessa janela determina se o comportamento completo se torna um hábito ou não", explica Kyle Smith, diretor de pós-graduação no Departamento de Ciências Psicológicas e Cerebrais da Faculdade de Dartmouth, EUA.

No estudo, Kyle e outros pesquisadores manipularam essa explosão cerebral em ratos usando a técnica de optogenética, a fim de excitar ou inibir os neurônios no DSL associados à formação de hábitos. Assim, um luz azul descontínua excitava as células do cérebro, enquanto uma luz amarela inibia as células e as desligava.

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O loop dos hábitos

Você já se perguntou porque os ratos são bastante utilizados em pesquisas? Esses animais chegam a ser usados em até 95% das pesquisas para simular o corpo humano, pois possuem uma fisiologia semelhante a nossa, mas essa escolha também envolve questões éticas.

No estudo da Dartmouth, os ratos foram treinados para correr num labirinto em formato de cruz, um por vez, e ao alcançarem determinado ponto encontravam uma bolinha de açúcar como recompensa. A tarefa basicamente era: correr, girar na direção certa e encontrar com a recompensa. Depois que a tarefa foi aprendida, o componente optogenético foi adicionado.

Quando as células no DSL eram excitadas no início da corrida, por apenas meio segundo, os ratos corriam de forma vigorosa e viraram imediatamente na direção da recompensa, sem parar e exitar. Essa atitude reforça que os hábitos são caracterizados por sua automação, consistência e resistência.

Mas quando as células eram inibidas, a atitude era completamente diferente. Os ratos ficaram mais lentos e pareciam esquecer o hábito, uma vez que ao chegarem no centro labirinto, eles pararam, giravam bastante até fazerem uma escolha.

"Os resultados demonstram como a atividade no estriado dorsolateral, quando os hábitos são formados, realmente controla como os animais são habituais, fornecendo evidências de uma relação causal", afirma Kyle.

Como os hábitos morrem

As pesquisas sobre hábitos e comportamentos são várias, mas carecem de uma melhor compreensão do papel que o DSL desempenha na memória do hábito e comportamentos. Sabe-se, por exemplo, que essa porção do cérebro se comunica com córtex cerebral.

 

Em 2012, Kyle conduziu outra pesquisa, agora para Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) com objetivo de quebrar um já hábito enraizado, a partir de interferências no córtex infralímbico (IL). A pesquisa também utilizou ratos, labirintos e o sistema de recompensas

Seguindo a lógica da pesquisa anterior, os animais, inicialmente, foram recompensados com chocolate, que depois foi misturado com uma substância que provocava náuseas. Para a surpresa dos pesquisados, os ratos ainda continuaram correndo ao encontro da recompensa “desagradável”.

Com o uso da optogenética, os pesquisadores então desligaram a atividade do IL por alguns segundos, bem em ponto do labirinto que os ratos tinham que decidir para onde ir. Quase instantaneamente, os animais abandonaram o hábito de correr para o lado da recompensa desagradável.

"Isso sugere que desligar o córtex da IL muda o cérebro dos ratos de um modo automático e reflexivo para um modo mais cognitivo ou engajado no objetivo - processando exatamente o que eles estão buscando", diz Smith.

As duas pesquisas são promissoras no desenvolvimento de tratamentos para distúrbios que envolvam comportamentos excessivamente repetitivos ou viciantes, como Parkinson, e podem indicar caminhos para a construção de vida mais longeva, regada de bons hábitos.

Autor:
Caffeine Academy

Referências

1

www.sciencedaily.com/releases/2020/02/200227144230.htm

2

www.sciencedaily.com/releases/2012/10/121031111425.htm