Ser feliz ou ser saudável? Boa saúde e felicidade são metas de vida valiosas, mas, pelo senso comum, aparentemente difíceis de serem alcançadas simultaneamente.

Contudo, estudos científicos corroboram com o fato de que a felicidade pode influenciar na saúde física, como um efeito cascata. Sabe-se, por exemplo, que pessoas mais felizes têm melhor saúde cardiovascular e sistema imunológico mais forte.

Então a felicidade pode ser mensurada? Na verdade, falar em felicidade é algo bem subjetivo, pois esse é um estado transitório que varia de pessoa para pessoa. Mas à medida que seus benefícios foram evidenciados, uma nova área científica dedicou-se à sua análise: o bem-estar subjetivo.

O bem estar-subjetivo é uma área da psicologia que tem como foco a percepção das pessoas em relação à sua própria vida. A teoria se baseia em três principais domínios da felicidade: satisfação com a vida, emoções positivas e emoções negativas, sendo os dois últimos independentes.

Um novo estudo da Association for Psychological Science, publicado no SAGE Journals, se propôs a analisar o efeito do bem-estar subjetivo na saúde física de adultos saudáveis. Para tal, durante 12 semanas, 77 indivíduos foram submetidos a uma intervenção psicológica positiva e 78 se mantiveram em um grupo de controle.

Atenção plena e gratidão: quais as influências dessas práticas na saúde?

Para construir e expandir o bem-estar social, o programa, que foi denominado Enduring Happiness and Continued Self-Enhancement (ENHANCE), abordou três fontes diferentes de felicidade, em três módulos semanais: Eu central, Eu experiencial e Eu social.

Em cada módulo, os participantes tiveram uma aula de uma hora com informações e exercícios; uma tarefa de redação semanal, como diário; e a execução de um componente comportamental ativo, como meditação guiada. Em nenhum momento falou-se sobre sono, exercícios ou dieta.

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As três primeiras semanas (1 - 3) do programa foram dedicadas ao Eu central, com foco na autodescoberta. Os participantes foram estimulados a fazer um planejamento do futuro, com atividades que incluíam identificação de valores, pontos fortes e metas pessoais.

As quatro semanas seguintes (4 - 6) se concentraram no Eu Experiencial, abrangendo a regulação emocional e a atenção plena. Nessa fase, também foi dado aos participantes ferramentas para identificar padrões de pensamento não adaptativos.

Por fim, as últimas quatro semanas ( 6 - 10) foi abordado o Eu Social, a fim de estimular uma vida social saudável. Os participantes aprenderam como cultivar a gratidão, promover interações sociais positivas e se envolver mais com sua comunidade.

Cada avaliação semanal incluiu uma avaliação que consistia em uma escala de experiência positiva e negativa para medir as emoções da semana anterior. Também foi mensurado a satisfação com a vida, através de perguntas como: “Na semana passada, quão satisfeito você estava com as coisas da sua vida?” e “Na semana passada, até que ponto você sentiu sentido e propósito em sua vida?”.

De acordo com Kostadin Kushlev, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Georgetown e um dos autores do artigo, todas as atividades eram ferramentas baseadas em evidências para aumentar o bem-estar subjetivo.

A relação entre felicidade, bem-estar e saúde

Ao fim do ENHANCE, os participantes receberam avaliações individuais e recomendações de quais módulos seriam mais eficazes para melhorar sua felicidade a longo prazo. Além disso, três meses após a conclusão do ensaio, eles foram acompanhados pelos pesquisadores para avaliação do bem-estar e saúde.

Constatou-se, por exemplo, que os indivíduos experimentais ficaram mais satisfeitos com suas vidas e relataram maior afeto positivo e menor afeto negativo durante o programa. Já o grupo de controle vivenciou poucas mudanças.

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Em relação à saúde física, o foco da pesquisa, indivíduos na condição experimental apresentaram taxas significativamente mais baixas de doença ao longo do estudo. Eles também relataram menos dias de licença médica no trabalho do que os participantes do grupo de controle

Ao analisar a saúde objetiva - pressão sanguínea e IMC - não foram identificadas melhorias significativas. “Encontramos efeitos do nosso PPI no auto-relatado do número de dias que os participantes se sentiram saudáveis ​​ou doentes, mas não encontraram efeitos nos indicadores fisiológicos de saúde”.

Ainda assim, a pesquisa indica caminhos promissores para um futuro mais feliz, afirma Kushlev: “Esses resultados mostram o potencial de tais intervenções para serem dimensionadas de forma a atingir mais pessoas em ambientes como campi universitários para ajudar a aumentar a felicidade e promover uma melhor saúde mental entre os alunos".