“Há pessoas que acham que a felicidade é a posse de bens materiais. Como isso de fato produz uma felicidade que é muito rasa [..] a pessoa entra em um processo obsessivo de imaginar que essa consumolatria é que vai deixá-la feliz. E a deixa, isso sim, em um estado de ansiedade muito grande.” ( Mário Sérgio Cortella)
Não é de agora que o consumismo demasiado - que é diferente do consumo - escancara seus efeitos na sociedade: degradação ambiental, compras compulsivas, endividamentos e o adoecimento psíquico.
Repensar as relações de consumo, de modo a reduzir seus excessos, é uma das principais alternativas para restaurar o equilíbrio entre o que é necessário e o que é importante. O minimalismo e o essencialismo são dois caminhos.
Minimalismo: quando menos é mais
O termo minimalismo tem origens no século XX, sendo apropriado por movimentos artísticos, culturais e científicos que faziam o uso de poucos elementos como base de expressão. Mas foi nas artes visuais e no design que o minimalismo exerceu mais influência.
A frase “menos é mais”, cuja tradução original é "less is more" é de autoria de Ludwig Mies van der Rohe, um arquiteto alemão que ficou mundialmente famoso por suas obras com elementos geométricos e, ao mesmo tempo, sofisticadas.
É daí que surge o conceito estético minimalista com uma sala branca, uma cadeira, grandes janelas e iluminação natural. Contudo, o minimalismo é muito mais do que isso, hoje é encarado como um estilo de vida que contrapõe a lógica consumista e seus excessos.
De forma resumida, o estilo de vida minimalista tem uma abordagem de vida simples e com prioridades vitais. Dessa forma, o ideal é se afastar de todos os excessos - bens materiais, hábitos e decisões - que possam sobrecarregar a vida e, ao mesmo tempo, limita-lá.
Veja algumas ideias centrais do minimalismo:
- Redução das compras compulsivas;
- Desapego dos bens materiais não essenciais;
- Mais valor às pessoas do que os bens;
- Busca por uma vida simples, porém, mais significativa.
O desapego, talvez, é uma das características mais marcantes do minimalismo e essencialismo. Mas, obviamente, você não vai de um dia para o outro se desfazer de todos seus móveis, roupas, joias e bens. Não é nada disso.
Ambos perpassam por um processo de autorreflexão e autoconhecimento. Antes de tudo, é preciso criar consciência sobre o seu atual modo de consumo e, logo depois, identificar o que faz sentido para você e o impacto que isso causa na sua vida.
Esvaziando o guarda-roupa e a caixa de email
Uma coisa interessante é se fazer os seguintes questionamentos: qual o valor que esse objeto ainda tem para mim? Preciso permanecer com esse objeto na minha casa ainda? Será que ele é mais útil para outra pessoa?
Essas perguntas se referem a bens materiais, mas, facilmente, podem ser adaptadas para hábitos, atitudes e até mesmo para o ambiente digital. Você já parou para analisar, por exemplo, o tempo que perde ao ficar abrindo a caixa de email?
Esse é um tipo de reflexão que visa despertar consciência sobre o uso do seu tempo e escolhas tomadas. Isso porque, também há uma associação entre minimalismo, produtividade e simplificação de rotinas.
As centenas de emails na sua caixa, as milhares de notificações no celular e as dezenas de apps sem uso não só te atrapalham, como também retiram o foco do que realmente é importante.
Se ligue nas dicas abaixo que podem otimizar sua rotina de trabalho/estudos:
- Organize seu ambiente de trabalho/estudos;
- Abandone a multitarefas;
- Elimine ao máximo as distrações;
- Liste sua tarefas do dia;
- Identifique as prioridades na sua lista.
Essencialismo: fazer menos e melhor
O essencialismo, por sua vez, não teve origem nos movimentos artísticos e sim na filosofia com Aristóteles. Enquanto doutrina filosófica, o essencialismo prega que a essência ou a forma fundamental dos entes (pessoas, objetos, animais, etc) precedem a sua própria existência.
Trazendo para o contexto atual, o essencialismo sustenta a ideia de que devemos trabalhar apenas com o que é essencial, isto é, com aquilo que é importante e fará diferença a longo prazo. Contudo, isso não significa dizer sim para tudo e todos.
O sim para tudo tem suas ressalvas, devendo ser usado somente para o que é essencial para si. O maior desafio, talvez, seja identificar o que de fato é essencial.
O essencialismo de Greg McKeown
Em seu livro, “Essencialismo” - A disciplinada busca por menos”, o autor Greg McKeown afirma que para equilibrar vida pessoal e profissional é preciso eliminar o que não é essencial e se livrar de tudo aquilo que desperdiça tempo.
Em síntese, a proposta do livro é alertar para o fato de que se não decidimos onde devemos concentrar nosso tempo e energia, consequentemente, outras pessoas (chefes, colegas, clientes e até familiares) farão isso por nós, e assim perdemos de vista tudo o que é significativo.
Greg McKeown, que também é consultor de negócios e liderança, ressalta que não basta recusar solicitações de terceiros aleatoriamente, também é preciso saber aproveitar melhor o seu tempo e as suas habilidades. A essa altura, você deve tá se pergunta como aplicar o essencialismo?
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A frase seguinte mostra claramente como fazer isso: “Só quando nos permitimos parar de tentar fazer tudo e deixar de dizer sim a todos é que conseguimos oferecer nossa contribuição máxima àquilo que realmente importa.”
Separamos algumas dicas para você adotar o essencialismo na sua vida:
- Elimine as atividades que lhe afastam dos seus objetivos;
- Foque em um propósito por vez;
- Aprenda a dizer não sem culpa;
- E para fixar, não seja multitarefas!
Apesar das origens diferentes, minimalismo e essencialismo são duas propostas que conversam entre si, estimulando a reflexão sobre o nosso atual estilo de vida moderno e até que ponto ele nos beneficia. Com esse texto, esperamos que você também tenha reflexão e, até quem sabe, mude seu estilo de vida.