O açúcar demorou um tempo para figurar entre os tópicos preferidos de discussão entre a comunidade acadêmica/científica.
Foi com a popularização do seu consumo, principalmente no século XX – tendo um enorme estímulo por parte da indústria alimentícia – que o mesmo passou a ser observado de perto por cientistas e médicos do mundo todo, o que trouxe à tona muitos dos seus malefícios e explicações porque o seu alto consumo é tão prejudicial.
Assim, não é novidade que muitos holofotes estão voltados para o açúcar. Atualmente, ele veste preto e segura uma foice - é o verdadeiro vilão da saúde. Está associado a diversas doenças e é o maior inimigo da perda de gordura corporal e de uma ótima performance física e mental.
Por outro lado, produtos e dietas low carb e cetogênica nunca tiveram tanto destaque. Endocrinologistas e nutrólogos nunca estiveram com as agendas tão cheias! A busca por esportes e por um estilo de vida mais saudável, no geral, tem sido cada vez maior. O padrão comportamental, definitivamente, tem seguido um caminho voltado para saúde e bem-estar - e isso é muito positivo!
O objetivo da Caffeine Army é estimular e ajudar você a se manter no caminho da saúde e do bem-estar. Queremos cada vez mais pessoas fazendo parte da nossa comunidade. A ideia deste blogpost é fazer com que você compreenda a raiz do problema e entenda porque é tão importante ponderar o consumo de carboidratos.
Homeostase glicêmica
É importante entender que o termo açúcar é o nome genérico para designar os diferentes tipos de carboidratos, como glicose, frutose, maltose, lactose e sacarose.
Existem também os adoçantes ou edulcorantes, que são substâncias diferentes do açúcar utilizadas para dar sabor doce aos alimentos, utilizadas para substituir totalmente ou parcialmente a sacarose - açúcar de mesa, extraído da beterraba e da cana-de-açúcar.
A glicose é a maior fonte de energia para todas as células dos mamíferos. Em particular, o sistema nervoso central (SNC) requer um suprimento contínuo de glicose para garantir sua demanda de energia e manter a homeostase metabólica.
Homeostase é a capacidade de nossos tecidos, órgãos, de manter todas as estruturas e funcionando adequadamente. Se somos capazes de manter nossa estrutura corporal funcionando, estamos em homeostase.
Para tanto, mecanismos fisiológicos de alta complexidade foram selecionados durante a evolução dos mamíferos para ajustar e manter a glicemia sanguínea dentro de faixas rigorosas.
Os níveis glicêmicos são mantidos dentro de uma faixa estreita através de uma atuação orquestrada entre diversos órgãos e sistemas que atuam em resposta a um conjunto de mecanismos de detecção da glicemia sanguínea altamente desenvolvidos.
Após uma refeição, um aumento rápido na quantidade de glicose sanguínea estimula a secreção de insulina, resultando em um aumento temporário de sua concentração no sangue.
No indivíduo saudável, o balanço entre a produção de glicose e sua utilização é precisamente controlado por esses mecanismos hormonais afinados que buscam alcançar as necessidades metabólicas do organismo. A razão insulina/glucagon é a principal responsável por esse controle.
Se uma pessoa ficar sem comer por um período maior, as concentrações de glicose no sangue cairão, e o pâncreas entra em ação liberando outro hormônio chamado glucagon, que desencadeia a quebra do glicogênio em glicose, empurrando os níveis glicêmicos de volta ao normal.
Assim, além do importante papel da insulina na homeostase glicêmica, a ação de substâncias contrarreguladoras como o glucagon é determinante para o adequado metabolismo glicêmico e garante o aproveitamento da glicose pelos tecidos periféricos.
Pâncreas
O pâncreas é uma glândula incrível do nosso corpo - um verdadeiro maestro da orquestra da homeostase glicêmica. Como glândula endócrina, produz diversos hormônios envolvidos na manutenção da homeostase metabólica, como a insulina e glucagon, mencionados anteriormente.
Insulina
A insulina é um hormônio cujo principal papel fisiológico é controlar a homeostase glicêmica por meio do estímulo à captação de glicose nos tecidos sensíveis à insulina e da inibição da liberação de glicose pelo fígado.
As células β-pancreáticas - produtoras de insulina- respondem a diversos nutrientes na circulação sanguínea. Mas glicose é, evolutivamente, o primeiro estímulo para a liberação de insulina porque é o principal componente alimentar e pode ser acumulada imediatamente depois da ingestão.
Ou seja, logo quando comemos, o nosso pâncreas percebe a elevação dos níveis de glicose no sangue e estimula a liberação de insulina, a fim de captar, utilizar e armazenar glicose, ácidos graxos e aminoácidos.
Portanto, a insulina entra em cena diminuindo os níveis de glicose do sangue e a transportando para os tecidos, onde ela será utilizada como fonte de energia. À medida que mais e mais células recebem glicose, os níveis de açúcar no sangue voltam ao normal.
Sendo assim, a insulina é um hormônio ANABÓLICO, a sua principal função é o estoque dos nutrientes ingeridos. Ela exerce importante ação anabólica sobre o metabolismo, pois aumenta o transporte de aminoácidos para o músculo, assim como aumenta a síntese de proteínas, estimula a glicogênese muscular e reduz catabolismo.
No fígado, a insulina promove o armazenamento de glicose (glicogênio) após uma refeição. No tecido adiposo, ela favorece a lipogênese – formação de gordura – saiba que o corpo armazena o excesso de energia na forma de gordura.
Se você entendeu a ação a insulina como hormônio anabólico, concorda que quanto mais você come, mais gera picos de insulina? E quanto mais picos de insulina, mais o seu pâncreas é “desgastado”? E quanto mais picos de insulina, maior o aumento da adiposidade corporal?
Quando o corpo é submetido a um estado hiperglicêmico crônico (altas taxas de glicose por um longo tempo) e à obesidade, a insulina começa a ter dificuldade em exercer a sua função e o pâncreas começa a entrar em processo de falha de produção, não conseguindo mais secretar insulina suficiente.
Desse modo, os níveis de glicose no sangue ficam altíssimos e o diabetes se instala (junto com inflamação, dano vascular e suas diversas complicações). Ou seja, quanto menos carboidrato, menos picos de insulina. Em geral, quanto menos picos de insulina, melhor para a saúde.
Insulina e o desenvolvimento de massa muscular
“Ah, mas a insulina é importante para o desenvolvimento da massa muscular...” Sim! Ela é. Mas, por exemplo, uma vez que você associa uma dieta low carb ou cetogênica à prática regular de exercícios físicos, a tendência é que a sua massa muscular não seja prejudicada.
Afinal de contas, o exercício físico é capaz de aumentar a translocação de GLUT4 - principal transportador de glicose presente no músculo – para a membrana da célula, sem necessidade de insulina, favorecendo a captação de glicose pelo músculo e estimulando a glicogênese muscular - e consequente ganho e manutenção de massa magra.
As vantagens de manter níveis baixos de insulina superam a ideia de manter uma dieta de alto valor energético à custa de carboidratos para estimular o crescimento muscular. Simplesmente porque uma infinidade de estudos científicos já demonstrou o prejuízo do consumo dos carboidratos, principalmente os refinados, para a saúde.
O jejum e exercício reduzem os níveis de insulina e são ótimos aliados no processo de perda de gordura corporal, manutenção de massa muscular e do bem estar físico e mental.
Por que um alto consumo de açúcares é tão danoso para o organismo?
Entre as teorias que explicam como a hiperglicemia crônica conduz aos danos celulares e teciduais observados ao estado hiperglicêmico crônico, como o diabetes, a formação dos produtos de glicação avançada, também chamados AGEs (Advanced Glycated End-Products), é considerada uma das mais importantes.
Os AGEs são moléculas formadas a partir de reações que ocorrem aceleradamente no estado hiperglicêmico do diabetes e são capazes de modificar, irreversivelmente, as propriedades químicas e funcionais das mais diversas estruturas biológicas.
Apesar de toda explicação relacionada a tais moléculas ser complexa e ainda, de certa forma, não completamente explorada, o que já está bem documentado é que o consumo de açúcar está intimamente relacionado ao surgimento de doenças vasculares, renais, oculares, ósseas, neurológicas, obesidade, diabetes mellitus e também está relacionado ao surgimento de câncer.
Portanto, se você ainda não possui estratégias diárias para diminuir ou eliminar o consumo de açúcares, ligue o sinal de alerta e busque ajuda e conhecimento sobre o assunto!